A Família
O Paço de Lanheses pertence aos condes de Almada e Avranches desde o século XIX.
A 30 de Março de 1818, o conde D. Antão José Maria de Almada aceita casar em Lisboa com a herdeira desta propriedade, D. Maria Francisca de Abreu Pereira Cirne Peixoto, filha única de Sebastião de Abreu Pereira Cirne Peixoto, 1º senhor da então Vila Nova de Lanhezes.
Ao fazê-lo assume o seu lugar na casa, que pertencia à família desde o século XVI.
Hoje a sua representação está em D. Lourenço José de Almada, nascido em Abril de 1961, natural de Lanheses, pai de três filhos, que a reparte com sua mãe e seus quatro irmãos.
Falar dos antepassados desta tão antiga e aristocrática família é o mesmo que falar da História de Portugal. Por terra e por mar, com carácter e nobreza cavalheiresca, os Almada lutaram sempre pelos seus ideais e pela pátria, participando em acontecimentos com influência no resto da Europa e do Mundo.
Não assumindo actualmente uma participação directa na governação da sua nação, primeiro pela Monarquia Constitucional e depois pela República, em cujas políticas nunca se reviu, assiste com preocupação à má gestão do Património e Tradições que tem como seu legado.
Os Almada
Condes de Almada e Abranches
Esta família, estabelecida há séculos em Lisboa, tem a sua origem, segundo os antigos nobiliários, num cruzado inglês que acompanhou a frota de William Longsword, filho ilegítimo de Henrique II da Inglaterra e meio-irmão de Ricardo Coração de Leão, que chega a Portugal para lutar contra os mouros durante a conquista desta cidade.
Como recompensa pela sua bravura, conta a lenda, que o primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques, lhe deu a cidade de Almada, de que ele terá assumido o nome.
Como facto, este sim documentado, em 1445 D. Álvaro Vaz de Almada recebe do rei da Inglaterra Henry VI a prestigiada Ordem da Jarreteira e o condado de Avranches, região junto ao mar com importante cidade fortificada, situada no Ducado da Normandia, como recompensa por suas façanhas na Guerra dos Cem Anos.
No final do século XV, o filho mais velho da sua segunda mulher, D. Fernando de Almada, fez parte da comitiva que acompanhou o rei Afonso V de Portugal a França para obter esforços contra Espanha.
Nesta ocasião, o rei francês Luís XI reconheceu o título de conde de Avranches para ele e seus descendentes.
Até ao início do século XIX, os Almada tinham o cargo de Mestre-Sala, o mestre-de-cerimónias da corte, altura em que a família teve que abandonar Lisboa por causa da guerra de sucessão ao trono, que viria a transformar-se em guerra civil.
O 3º conde de Almada e 15º de Avranches desloca-se então para o norte de Portugal, para a aldeia de Lanheses, na qual tinha o seu senhorio e um exército às suas ordens, assim como uma importante casa solarenga para habitar: o aqui retratado Paço de Lanheses.
O Paço de Lanheses é habitado pelo 8.º Conde de Almada e 19.º Conde de Avranches.
1.º Conde de Almada
2.ª Condessa de Almada
4.º Conde de Almada
5.º Conde de Almada e filhos
7.º Condessa de Almada e filhos
8.º Conde de Almada e familiares
A Arquitectura
Ao fundo abre-se o nosso Paço de Lanheses que é uma grande casa senhorial, ou "palatium" como o nome indica, do início do século XVIII, disposto em “L”, formado por dois corpos ou alas, de dois pisos.
Voltando a sair, fronteiro às duas alas referidas em cima, uma virada a Norte e outra a Poente, encontra-se um amplo terreiro e a delimitá-lo um muro ameado, decorado com merlões, interrompido a meio por portão armoriado permitindo-lhe o acesso. Ladeando o portão, o muro é rasgado por sóbrias janelas gradeadas.
A fachada da referida capela ostenta duas cartelas, estando a da esquerda inscrita com: "LOU/VADO. SE/IA. O. SANTI/SSIMO. SA/CRAMEN/TO" e a da direita com: "O. MA/RIA. CONC/EBIDA. SEM / PECCADO R/0GAI POR / NOS
Referências históricas
Em 1723, Joseph Pereira de Brito, seu proprietário, pede a transferência da capela para o local actual, tornando-a pública, tendo sido benzida em 1757.Por essa altura, a casa terá sido objecto de uma remodelação geral, pois toda ela apresenta a mesma traça, sem emendas, e a sua pedra de armas - Abreu, Castro, Brito e Pereira – está por cima da escadaria da referida entrada.
Já o muro que aqui abordámos contém uma imponente pedra de armas, com o brasão do seu filho mais velho.
Por baixo da casa, a nascente das tais escadas de acesso à entrada principal e atrás de um dos arcos laterais, ainda é visível a porta da antiga capela, com uma cruz em baixo relevo na sua padieira, de estilo quinhentista.
Bibliografia
«Solares Portugueses – Introdução à Casa Nobre, por Carlos de Azevedo, Livros Horizonte, Setembro de 1988, p. 151.»
«Casas com Tradição em Portugal, por Jorge Pereira de Sampaio, Estar Editora, Lisboa, 1998, p. 46 a 52.»
«A Caminho de Santiago - roteiro do peregrino, por Lourenço José de Almada, Lello Editores, Porto, Janeiro de 2000, p. 117 e 118.»
O Barroco no Alto Minho (2006): «Lanheses: Capela do Santo Cristo - 1722, Registo Geral ADB, 50, 290», por Manuel António Fernandes Moreira, Viana do Castelo, p. 41.
«Hotel Paço de Lanheses em Viana do Castelo, iGoGo - Guia de Turismo e Lazer de Portugal.»
O Rio Lethes e o Lugar da Passagem
O historiador Estrabão foi o primeiro a comparar o rio Lima ao lendário Lethes: o Rio do Esquecimento.
Segundo a sua opinião, este apelido resultou de um incidente ocorrido entre túrdulos e celtas que, aquando de uma expedição, querendo atravessar este rio, se envolveram em desordem – o que resultou na morte do líder, ficando os soldados dispersos pela Ribeira Lima, esquecendo-se inteiramente da dita expedição e dos motivos a ela inerentes.
Os Paços de El-Rei D. António
Narra a história a familiar que Dom António ‘Prior do Crato’ esteve escondido, no Paço de Lanheses, quando andava fugido dos castelhanos e a tentar reunir forças aliadas a seu favor contra Filipe II de Espanha.
Este episódio terá ocorrido antes de ter seguido para o exílio e depois de ter sofrido a derrota armada da facção portuguesa que o apoiava na sucessão da coroa de Portugal, às mãos do Duque de Alba, em Lisboa, a 25 de Agosto de 1580.
O Zé do Telhado e a Condessa de Almada
Certo dia, entra pelo quarto da senhora condessa uma das criadas de confiança esbaforida e muito assustada.
O Caminho de Santiago
“Quem percorrer os Caminhos de Santiago, terá o prazer de desfrutar dum passeio que conciliará o espírito com a serenidade que se vivia no passado, enquanto observa os monumentos e aprecia a paisagem de cada região”.
A Caminho de Santiago, roteiro do peregrino, Conde de Almada, Lello Editores, jan 2000.
Lanheses, com o seu rio e vale, foi desde sempre um ponto histórico de grande circulação de pessoas e bens. Recordemos que apareceram várias canoas pré-medievais na sua margem e que tudo faz indicar que a rota romana “Per a Loca Marítima” seguia por aí. Curiosa, a ela relacionada, é a lenda do Rio do Esquecimento que abordei anteriormente.
Há inclusivamente a prova documental de que nos séculos XVIII e XIX dois peregrinos estrangeiros, um que seguia para Santiago de Compostela e outro que vinha de lá, tinham morrido nesta freguesia.
Isso bastaria para se perceber que este local era ponto cruzamento de um dos mais importantes Caminhos de Santiago.
Portugal cedo dá importância à descoberta, no séc. IX, do túmulo do Apóstolo São Tiago em Compostela, na Galiza. Ainda era Condado Portucalense, no séc. XI, quando o seu conde D. Henrique lhe pede a bênção pela conquista de Coimbra deslocando-se a esse lugar. A seguir a ele foram vários dos seus descendentes que o fizeram, figurando entre os mais conhecidos a Rainha Santa Isabel e o Rei D. Manuel I.
Aqui em Lanheses o trajecto proposto sobrepõe-se ao Trilho dos Romeiros (PR 22), que se dirige à Serra de Arga, separando-se dele no cruzamento que vai para o Mosteiro de S. João.
Atravessa o Rio Lima no Lugar da Passagem, em Geraz do Lima, onde há um curioso marco datado de 1742 que refere ao preço que os passageiros tinham que pagar ao barqueiro e os privilégios de quem estava livre de o fazer.
A seguir o caminho cruza a ponte românica de Linhares no ribeiro conhecido pelo nome de Olho, antes de chegar a um pequeno largo da Seara onde se fazia a pesagem das mercadorias e onde está visível um antigo forno de telha.
Logo depois encontram o espaço onde se fazia uma grande feira, hoje ligeiramente deslocada de lugar, e aí situa-se a entrada do nosso Paço de Lanheses com a sua fonte cuja água era oferecida a quem por lá passava.
A partir daí segue para a Igreja Paroquial de Santa Eulália de Lanheses e outras várias capelas, alminhas e cruzeiros.